domingo, 19 de outubro de 2014

MAST BUMPING. MAST O QUÊ?!

A partir de hoje, Maurizio Spinelli estará conosco como colunista.


Em primeiro lugar, agradeço a oportunidade que o Asas Rotativas está me dando para divulgação de importantes informações aeronáuticas relativas a segurança de voo.

Como primeiro tema, escolhi um assunto que ainda é pouco conhecido, um fenômeno chamado de "Mast Bumping".  Mast o quê ?! De forma simplificada, essa reação aerodinâmica ocorre exclusivamente em aeronaves bi-pá, e se concretiza mediante uma reação motora equivocada. Vou considerar aeronaves com sentido de giro anti-horário para explicação deste tema.

FATORES PRIMÁRIOS

1.     Ocorre somente em aeronaves Bi-pá

Existem atualmente diversas aeronaves dotadas de duas pás no mercado. As mais conhecidas são aquelas da família Robinson (R22, R44 e R66), mas não somente, há também o Bell 206 (Jet ou Long Ranger),  Bell 212 (Famoso Huey), Bell 222, o lendário Bell 47 dentre outros, não tão comuns.

2.     Momento de Força G Negativa (Voluntária ou não)

Sabe aquela sensação de "frio na barriga" geralmente experimentada a bordo de montanhas russas ? Então, o Momento de Força G Negativa é exatamente isso. Quando o seu peso, ou o peso da aeronave se equipara a zero, ou pior, fica negativo. Isso pode ocorrer de forma voluntária ou não. A voluntária, seria a aplicação do cíclico para frente, de forma abrupta e repentina por parte do piloto. A não voluntária, pode ser descrita por exemplo por ação de um forte vento descendente.

 3.     Correção equivocada por parte do piloto

A ausência de Força G faz com que a aeronave inicie um rolamento para a direita (será explicado o porquê mais adiante), e o piloto, de forma equivocada procura corrigir esta tendência aplicando cíclico lateral para a esquerda.

CENÁRIO

Imagine uma aeronave bi-pá em um voo reto e nivelado. Tudo vai bem até que o helicóptero passa nas proximidades de uma montanha e uma turbulência orográfica o atinge fazendo com que a ausência de G apareça. Neste momento, a tendência do helicóptero é de assumir uma atitude de nariz para baixo, ou atitude picada - neste momento a linha do R/C (rotor de cauda) fica acima do CG da aeronave, fazendo assim com que a tração do rotor de cauda seja mais eficiente. É por este motivo que há um rolamento para a direita (nos casos das aeronaves com giro de rotor anti-horário). É importante frisar que ao mesmo tempo que tudo isso está acontecendo, o R/P (rotor principal) perde sua eficiência, ou como costuma-se dizer, fica descarregado - em outras palavras - não está funcionando para sua função primária de controle de atitude. De forma equivocada, o piloto comanda o cíclico para a esquerda na esperança de ajustar a atitude da aeronave, mas ele está comandando somente a cabeça do rotor, fazendo com que o disco do rotor se incline para o lado comandado. O detalhe é que, na realidade, o piloto não tem controle lateral da aeronave neste cenário, somente possui controle longitudinal. O batimento (fenômeno normal em qualquer aeronave de asa rotativa) aumenta de forma exagerada, fazendo com que o cubo do R/P atinja o mastro violentamente de uma lado e em seguida do outro até que esse se rompa.


As aeronaves envolvidas nesse tipo de cenário, dificilmente escapam sem deixar vítimas fatais. A violência nesse tipo de acidente é devastadora tornando difícil a identificação dos destroços, até mesmo para um perito.
Para interromper a sequência de eventos que leva ao final catastrófico é necessário um pequeno gesto que é pouco treinado e divulgado: Simplesmente trazer o cíclico para trás, reduzindo a velocidade, e somente após isso, nivelar a cabine aplicando cíclico lateral para a esquerda. Essa simples manobra faz com que o R/P se recarregue e volte a ter sua eficiência restabelecida.

CONCLUSÃO

Há uma frase muito forte que sempre é lembrada em eventos de segurança de voo: "Aviação não é feita para amadores!" - A mais pura verdade ! O que determina a diferença entre um profissional e um amador, é o empenho e o treinamento envolvido na prática da atividade. A chave desta frase portanto é treinamento. Apesar de sabermos que se torna muito perigoso recriar as condições envolvidas no Mast Bumping, a forma de se treinar essa recuperação é muito simples, basta trazer o cíclico para trás, freando a aeronave, durante um voo reto e nivelado. Apesar de parecer um treinamento simplista, é necessário entender que a chave da questão está na reação motora, ou seja no condicionamento psicomotor que essa manobra envolve. Quanto maior o treinamento nesse sentido, mais facilmente seu cérebro irá reagir no momento oportuno.




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