A partir de hoje, Maurizio Spinelli estará conosco como
colunista.
Em primeiro lugar, agradeço a oportunidade que o Asas
Rotativas está me dando para divulgação de importantes informações aeronáuticas
relativas a segurança de voo.
Como primeiro tema, escolhi um assunto que ainda é pouco
conhecido, um fenômeno chamado de "Mast Bumping". Mast o quê ?! De forma simplificada, essa
reação aerodinâmica ocorre exclusivamente em aeronaves bi-pá, e se concretiza
mediante uma reação motora equivocada. Vou considerar aeronaves com sentido de
giro anti-horário para explicação deste tema.
FATORES PRIMÁRIOS
1.
Ocorre
somente em aeronaves Bi-pá
Existem atualmente diversas aeronaves dotadas de duas pás
no mercado. As mais conhecidas são aquelas da família Robinson (R22, R44 e R66),
mas não somente, há também o Bell 206
(Jet ou Long Ranger), Bell
212 (Famoso Huey), Bell 222,
o lendário Bell
47 dentre outros, não tão comuns.
2.
Momento
de Força G Negativa (Voluntária ou não)
Sabe aquela sensação de "frio na barriga"
geralmente experimentada a bordo de montanhas russas ? Então, o Momento de
Força G Negativa é exatamente isso. Quando o seu peso, ou o peso da aeronave se
equipara a zero, ou pior, fica negativo. Isso pode ocorrer de forma voluntária
ou não. A voluntária, seria a aplicação do cíclico para frente, de forma
abrupta e repentina por parte do piloto. A não voluntária, pode ser descrita
por exemplo por ação de um forte vento descendente.
A ausência de Força G faz com que a aeronave inicie um
rolamento para a direita (será explicado o porquê mais adiante), e o piloto, de
forma equivocada procura corrigir esta tendência aplicando cíclico lateral para
a esquerda.
CENÁRIO
Imagine uma aeronave bi-pá
em um voo reto e nivelado. Tudo vai bem até que o helicóptero passa nas
proximidades de uma montanha e uma turbulência orográfica o atinge fazendo com
que a ausência de G apareça. Neste
momento, a tendência do helicóptero é de assumir uma atitude de nariz para
baixo, ou atitude picada - neste momento a linha do R/C (rotor de cauda) fica
acima do CG da aeronave, fazendo assim com que a tração do rotor de cauda seja
mais eficiente. É por este motivo que há um rolamento para a direita (nos casos
das aeronaves com giro de rotor anti-horário). É importante frisar que ao mesmo
tempo que tudo isso está acontecendo, o R/P (rotor principal) perde sua
eficiência, ou como costuma-se dizer, fica descarregado - em outras palavras -
não está funcionando para sua função primária de controle de atitude. De forma
equivocada, o piloto comanda o cíclico
para a esquerda na esperança de ajustar a atitude da aeronave, mas ele está
comandando somente a cabeça do rotor, fazendo com que o disco do rotor se
incline para o lado comandado. O detalhe é que, na realidade, o piloto não tem
controle lateral da aeronave neste cenário, somente possui controle
longitudinal. O batimento (fenômeno normal em qualquer aeronave de asa
rotativa) aumenta de forma exagerada, fazendo com que o cubo do R/P atinja o
mastro violentamente de uma lado e em seguida do outro até que esse se rompa.
As aeronaves envolvidas nesse tipo de cenário, dificilmente
escapam sem deixar vítimas fatais. A violência nesse tipo de acidente é
devastadora tornando difícil a identificação dos destroços, até mesmo para um perito.
Para interromper a sequência de eventos que leva ao final
catastrófico é necessário um pequeno gesto que é pouco treinado e divulgado:
Simplesmente trazer o cíclico para trás, reduzindo a velocidade, e somente após
isso, nivelar a cabine aplicando cíclico lateral para a esquerda. Essa simples
manobra faz com que o R/P se recarregue e volte a ter sua eficiência
restabelecida.
CONCLUSÃO
Há uma frase muito forte que sempre é
lembrada em eventos de segurança de voo: "Aviação não é feita para
amadores!" - A mais pura verdade ! O que determina a diferença entre um
profissional e um amador, é o empenho e o treinamento envolvido na prática da
atividade. A chave desta frase portanto é treinamento. Apesar de sabermos que
se torna muito perigoso recriar as condições envolvidas no Mast Bumping, a
forma de se treinar essa recuperação é muito simples, basta trazer o cíclico
para trás, freando a aeronave, durante um voo reto e nivelado. Apesar de
parecer um treinamento simplista, é necessário entender que a chave da questão
está na reação motora, ou seja no condicionamento psicomotor que essa manobra
envolve. Quanto maior o treinamento nesse sentido, mais facilmente seu cérebro
irá reagir no momento oportuno.
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